A indústria de petróleo e gás natural no Brasil atigiu níveis de produção recordes nos últimos meses, mas as mudanças crescentes no mercado de energia global e as preocupações socioambientais trazem novos desafios e oportunidades para essa indústria
No último mês de maio, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou um novo recorde de produção de petróleo e gás natural no país, com 3,4 milhões de barris de óleo produzidos por dia, sendo 60,7% provenientes do pré-sal. De olho nesse desempenho e com o objetivo de abrir o mercado para mais competidores, o governo lançou recentemente o programa Novo Mercado de Gás, que busca reduzir o preço do insumo em até 40% nos próximos dois anos.
Com os planos globais de transição energética em busca de uma economia de baixo carbono em evolução, a ANP entende que precisa explorar o potencial petrolífero do Brasil antes do pico de demanda por petróleo, que estima que aconteça em 2030. A exploração do pré-sal tem papel importante nesse cenário.
O pré-sal é uma grande reserva de petróleo e gás natural encontrada em águas profundas, mais de sete mil metros abaixo do nível do mar, sob uma extensa camada de sal de até dois mil metros de espessura e compreende uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros na costa brasileira. Na camada pré-sal no Brasil, foram descobertos diversos campos para exploração do petróleo, os quais estão divididos entre as Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo.
De acordo com a Petrobrás, as descobertas no pré-sal estão entre as mais importantes em todo o mundo na última década. A reserva é composta por muito óleo leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial.
Apesar de buscar uma transição energética que substitua os modelos poluentes de geração de energia por matrizes limpas dependentes de recursos renováveis, a sociedade atual ainda é altamente dependente do petróleo e seus derivados. Embora seja mais associado ao uso de combustíveis como a gasolina e o óleo diesel, o petróleo está presente em todas as áreas da vida moderna, desde a geração de energia até os bens de consumo. Seus derivados são usados na fabricação de plásticos, tecidos sintéticos, tintas, cosméticos e muito mais.
A maior parte das reservas brasileiras de petróleo está em campos marítimos, o que tem levado as atividades de perfuração a atingir profundidades cada vez maiores, contando com tecnologias mais modernas resultantes de parcerias realizadas pelas empresas de Exploração & Produção com empresas de tecnologia como a Siemens, universidades e pesquisadores.
Hoje, o Petróleo aparece em segundo lugar entre os itens mais exportados pelo Brasil, com 1,12 milhão de barris exportados por dia em 2018, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, representando cerca de 40% de toda a produção do ano. Os principais compradores de petróleo brasileiro são a China, os Estados Unidos e o Chile, mas a ANP sabe que precisa diversificar o mercado se quiser continuar competitiva num cenário geopolítico de crescentes mudanças.
A cadeia de negócios de Petróleo&Gás se divide em três áreas básicas, cada uma com desafios tecnológicos e operacionais diferentes:
Também conhecida como Exploração & Produção (E&P), refere-se à busca, perfuração de poços e produção de Petróleo e Gás Natural.
A primeira etapa de E&P é a prospecção, quando é realizado um estudo detalhado do solo e do subsolo para determinar a probabilidade de existência de reservas de petróleo. Esse estudo é feito por meio de satélites, aviões, drones e equipamentos específicos, que mostram ainda se a extração do poço é economicamente viável.
Depois de localizada uma reserva de petróleo, começa a etapa de perfuração. Inicialmente um primeiro poço é perfurado para comprovar a existência de petróleo e, caso confirmada a viabilidade da extração, novos equipamentos são necessários para a produção, dependendo de onde se encontram as reservas.
A etapa de exploração do Petróleo e Gás Natural pode ser feita em terra firme, no continente (onshore) ou em alto mar, em águas profundas (offshore), como é o caso do pré-sal. Em terra firme, a perfuração para a produção é feita por meio de torres de perfuração. Já em alto mar, são usadas plataformas marítimas, também chamadas de plataformas continentais, que podem ser de diferentes tipos:
Plataforma autoelevável: Trata-se de uma balsa com estruturas de apoios que são acionadas para atingir o fundo do mar. Com isso, ela é elevada a um nível acima da superfície da água para oferecer grande estabilidade. Por ser móvel, pode ser removida para outras localizações. É usada para perfurações em profundidades até 150 metros.
Plataforma fixa: Feita de estruturas modulares de aço, é cravada com estacas no fundo do mar e feita para operações de longa duração. É usada para perfurações em profundidades até 300 metros.
Plataforma semissubmersível: Composta de um ou mais conveses, ela é apoiada por colunas em flutuadores submersos. A estabilidade é controlada por sistemas de ancoragem (âncoras, cabos e correntes) e de posicionamento dinâmico, com propulsores instalados no casco. Como tem grande mobilidade, seu uso principal é para perfuração de poços exploratórios em grandes profundidades.
Plataforma FPSO: O nome vem da sigla em ingês para “Floating, Production, Storage and Offloading”. Trata-se de um navio, com capacidade de processar, armazenar e transferir o petróleo e gás natural explorados. Tem grande mobilidade e é usada principalmente em locais mais isolados, com pouca estrutura para a instalação de uma plataforma fixa.
Navio-sonda: É um navio que possui uma torre de perfuração ligada a uma sonda, que desce até o local da perfuração por uma abertura no casco. Seu posicionamento é feito por sensores acústicos, propulsores e computadores, garantindo estabilidade e anulando os efeitos dos ventos e das ondas. Pode operar em águas ultraprofundas, alcançando mais de 2.000 metros.
Trata-se do transporte, armazenamento e comercialização no atacado de produtos petrolíferos brutos ou refinados. O transporte de pode ser feito por oleodutos e gasodutos, ferrovias, navios petroleiros ou caminhões tanque, que levem o petróleo e gás natural brutos dos locais de produção para as refinarias. Hoje em dia, algumas operações midstream já são projetadas para incluir elementos de downstream, como é o caso de plantas de armazenagem de gás natural que já trabalham no refino e liquefação, permitindo que seja entregue um produto final, como o GNL e FLNG.
Refere-se ao refino do petróleo bruto e ao processamento e purificação do gás natural bruto, bem como a comercialização e distribuição de produtos derivados do petróleo e do gás natural. O setor downstream é responsável pela produção daquilo que chega aos consumidores finais, como gasolina, querosene, combustível de aviação, óleo diesel, outros óleos combustíveis, lubrificantes, ceras, asfalto, gás natural e GLP (gás de cozinha), além de centenas de outros produtos petroquímicos.
O gás natural é usado como combustível no transporte e nas usinas termoelétricas, bem como fonte de energia em casas, fábricas e estabelecimentos comerciais. Também pode ser convertido em ureia, amônia e outros produtos usados como matéria-prima. A maior consumidora de gás natural é a indústria, responsável por 52% do consumo do total produzido, de acordo com a ANP.
Além da Petrobrás, responsável por 77% da produção no país, o Brasil tem cerca de 30 outras
empresas que produzem gás natural e a distribuição é feita por estado, quase sempre por empresas estatais. Além da Petrobrás, existem outras 26 distribuidoras no país; porém, por meio da Gaspetro, a Petrobrás tem participação em 19 dessas companhias.
Neste ano, o governo lançou o programa Novo Mercado de Gás, que tem como objetivo aumentar o número de empresas atuantes no mercado de Gás Natural para aumentar a competitividade e fazer com que os preços caiam. A expectativa é que a mudança barateie também o custo da energia elétrica, já que o Gás Natural é utilizado como combustível nas termelétricas; no entanto, não há ainda uma estimativa precisa desse impacto. Em termos de investimento, o Ministério de Minas e Energia calcula que o programa pode gerar R$32,8 bilhões em investimentos em infraestrutura para Gás Natural no País até 2032.
Este novo ambiente, com maior abertura de mercado e novas regulamentações, trouxe grandes mudanças e decisões difíceis para a indústria de Petróleo e Gás, além da busca cada vez mais premente por conteúdo local competitivo e de excelência.
A Siemens tem os recursos locais necessários para responder à dinâmica de oferta e demanda do mercado a curto e médio prazos, com diversos novos modelos operacionais, atendimento às regras locais e abordagens que melhorem o CAPEX (Capital Expenditure) e o OPEX (Operational Expenditure) e soluções para alcançar um maior equilíbrio com inovações e soluções tecnológicas de upstream, midstream e downstream.